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A escrita como ferramenta a nosso dispor

Atualizado: 10 de nov. de 2021


Lançamento livro Perdas Compartilhadas-604

“o valor fundamental da escrita está em sua capacidade de fazer com que nos perguntemos como e por que nos sentimos de um determinado modo” James Pennebaker

Segundo James Pennebaker autor do livro Opening up: the healing power of expressing emotions (publicado no Brasil com o título Abra seu coração) a escrita pode tanto nos ajudar a organizar pensamentos,  situações cotidianas e eventos traumáticas vividos como, também, melhorar a saúde física e mental.

Ao escrever sobre um problema que, a princípio, parecia imenso, as pessoas poderão ter mais facilidade para administrar e resolvê-lo, além de compreender a dimensão real do que está sendo vivido, depois de enxergá-lo no papel.

Em 1983, foi realizado um estudo com 46 voluntários, alunos do curso de Psicologia, da Universidade Metodista do Sul (EUA). Pennebaker e Sandra Beal queriam checar a relação entre a escrita e a saúde e os possíveis benefícios da expressão das emoções.

Dividiram os participantes em 4 grupos. O estudo foi  anônimo e confidencial e os voluntários não deveriam se preocupar com a gramática, ortografia ou estrutura da frase. A escrita aconteceu durante 4 dias consecutivos com duração de 15 minutos/cada.

Foi comparado o número de visitas de cada participante ao centro de saúde nos meses anteriores ao estudo e nos meses seguintes. Todos apresentaram o mesmo número de visitas, antes do estudo.

Grupo1- Escreveram apenas sobre as emoções relacionadas ao evento traumático, como se sentiram na ocasião e como se sentem no momento presente, sem mencionar diretamente o evento.

Grupo2- A escrita concentrou-se nos fatos, na descrição do evento traumático em detalhes, sem mencionar as emoções vinculadas a estes fatos.

Grupo3- Escreveram sobre o evento mais traumático vivido e expressaram pensamentos e sentimentos ligados a ele.

Grupo4- Escreveram sobre assuntos superficiais ou irrelevantes. O objetivo deste grupo era ajudá-los a avaliar se escrever sobre assuntos banais produziria algum efeito à saúde.

Após o estudo, o grupo 3, nos seis meses seguintes, apresentou queda de 50% no índice de visitação mensal ao centro de saúde. Os voluntários, após quatro meses, preencheram questionário para avaliar os sentimentos , a longo prazo, quanto ao estudo que haviam participado. As respostas vieram de encontro com os dados do centro. Os questionários preenchidos pelo grupo 3, mostraram ,também, que escrever sobre pensamentos e sentimentos mais profundos ligados a um trauma colaborou para a melhoria dos estados de ânimo, numa visão mais positiva sobre a vida e em melhor saúde física.

Ressignificar perdas pela escrita…

“O ato de contar repetidamente uma experiência nos leva a organizá-la em nossa mente e a elaborar um resumo sobre a história que vivenciamos”. James Pennebaker

Recentemente foi lançado o livro Perdas Compartilhadas (Com-Arte/ EDUSP), coletânea que trata da perda parental. A escrita foi uma via importante para a ressignificação das histórias compartilhadas. Cada história um capítulo e cada capítulo um resultado deste trabalho pela escrita.

Para a realização deste livro, organizamos alguns encontros entre os autores, com isso criou-se um espaço para o compartilhamento do processo de elaboração dessas histórias: a começar pela dificuldade encontrada para escrever sobre a perda do filho e o quão intenso e doloroso é reviver a perda no papel. Num segundo momento, a via da escrita trouxe novas possibilidades para reorganizar o que foi vivido e transformá-lo.

Através de cada etapa da construção dos capítulos pude constatar que a escrita apresenta um percurso diferente da fala. Ambas oferecem oportunidade para compartilhar e expressar a perda, no entanto, quando se escreve repetidamente sobre um evento traumático ou de difícil elaboração, processo ocorrido no livro e também nas oficinas de escritas que ofereço, passa-se pela mudança gradual de perspectiva, a história que antes poderia ser contada de forma desordenada e com respostas emocionais mais intensas, passa a ser abordada de uma maneira mais tranquila. A história vivida pode ocupar um espaço diferente de compreensão, gerando benefícios para o contexto atual de vida.

Para saber mais sobre oficinas de escrita como ferramenta no processo de reorganização da vida após um evento traumático ou de difícil elaboração, entre em contato: oficinas@perdascompartilhadas.com.br.

Próximo post: A escrita como ferramenta no processo de recolocação ou revisão do caminho profissional. Até lá!

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